O imaginário sobre Itaituba
O imaginário é uma construção parcial de uma forma de agir de um povo de um determinado local, que de forma isolada e na maioria das vezes negativa, acaba por criar um pré-conceito a cerca da grande maioria das pessoas onde lá vivem.
Itaituba, também não escapa destes estereótipos. A maioria deles foi criada na época da grande extração semimanual do ouro na região, durante as décadas 70, 80 e meados da década de 90 do século passado.
Durante este período, a cidade compreendia uma extensão territorial muito maior do que atualmente, sendo o maior município do mundo, bem como o mais movimentado aeroporto de aviões monomotores.
Este boom de crescimento econômico, atraiu milhares de pessoas a cidade, gerando um altíssimo crescimento demográfico, levando a cidade a possuir mais de 160 mil habitantes, bem mais do que os atuais 96.615 habitantes, segundo as últimas estimativas do IBGE.
As notícias de assassinatos e desrespeitos às leis ocorridas nas regiões de alguns garimpos, que até então pertenciam ao município, perpetuaram o imaginário local e espalharam-se a muitas regiões do país onde viam os trabalhadores, aventureiros e comerciantes. Era como se essas práticas não acontecessem de forma isolada, mas sim costumes amplamente aceitos por todos, o que não era verdade.
Lembro-me de um amigo que fora continuar seus estudos em Belém do Pará. Levou daqui seu Passat zero quilômetro de cor preta. Chegando a capital do estado, colocou uma película também preta no carro. Em um destes acontecimentos cotidianos da vida, veio a bater seu carro
- Vocês estão bem?
- Queria saber como iremos fazer para eu pagar o prejuízo que causei em seu carro.
Para seu espanto, a acompanhante do rapaz, disse nervosamente:
- Vamos embora daqui! Esse carro deve ser de algum pistoleiro de Itaituba. Não vê a placa, o carro e os vidros todos pretos. Vamos embora pelo amor e Deus!
Meu amigo ficou impressionado com este fato, não estava acreditando no que havia ocorrido com ele. Acabara de causar danos financeiros a outra pessoa e não precisou pagar por isso.
Na verdade, ele foi mais um a compreender a força e a extensão da criação dos estereótipos nas relações humanas, que para o historiador francês Jacques Le Goff “(estas) são as práticas sociais que mudam mais lentamente, apesar de não corresponderem à realidade das formas de agir das pessoas”.
Roberto Dantas é Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Curso de extensão universitária na área de Educação, sendo professor bolsista CNPq – PROEX – UFRN – Pós-graduado em Estudos Amazônicos pela Universidade Federal do Pará (UFPA).Colunista do Jornal do Comércio - Itaituba -PA - Professor Universitário da Faculdade de Itaituba (FAI)